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'Um Papo sobre fotografia & inspiração' com Bruno Di Faria.

  • Foto do escritor: Caio Pietro
    Caio Pietro
  • 7 de jul.
  • 19 min de leitura

Atualizado: 14 de jul.

Fotografia: Bruno Di Faria
Fotografia: Bruno Di Faria

Prazer, eu sou Bruno de Farias, sou fotógrafo e diretor de arte. E basicamente a minha trajetória na fotografia... eu sinto que ela nunca teve, de fato, um início. Nunca começou. Ela sempre existiu, pra ser sincero.

Eu sempre tive muita influência da minha própria família, porque ela veio do interior de Minas Gerais pra se mudar pro interior de São Paulo — que foi a cidade onde eu nasci, que se chama Araraquara. Minha família é bem tradicional, mineira, classe média, vida comum mesmo.

E o meu vô veio justamente pra buscar novas oportunidades. Ele se mudou pro interior de São Paulo pra tentar uma vida melhor, criar os meus tios, meu pai e tudo mais — porque ele teve oito filhos. Sempre trabalhou muito, se dedicou pra oferecer uma condição melhor pra todo mundo.

Quando ele começou a crescer profissionalmente, minha família foi se estruturando ali na cidade. E meu vô passou a investir bastante nessa coisa de registrar os momentos — comprava câmera, filmadora… tudo pra guardar a história da nossa família.

Como eles viajavam bastante juntos, sempre registravam essas viagens. E a gente tem essas memórias guardadas até hoje. Não só do meu crescimento, mas de toda a evolução da nossa família. Então minha influência na fotografia vem 100% deles.

Eu lembro que quando eu ficava sozinho em casa, direto eu pegava os álbuns que ficavam no armário da sala e ficava lá folheando, vendo as fotos. Eu não conheci minha avó por parte de pai — ela faleceu quando eu nasci —, então a única lembrança que eu tenho dela é uma foto me segurando no colo. E por conta disso eu consigo, de certa forma, sentir como se eu tivesse vivido com ela, vendo essas memórias de Natal, Ano Novo...

Tinha um tio meu que sempre foi o responsável por registrar esses momentos — ele que fotografava, filmava tudo. E o mais legal é que foi ele quem me deu a minha primeira câmera. Porque ele já tinha percebido o quanto eu gostava daquilo. Eu vivia pegando a câmera dele escondido pra fotografar tudo (risos). Então ele resolveu apostar nisso, me incentivar mesmo.

Ele é uma das minhas maiores influências. Eu gosto muito dele por isso. Ele foi quem registrou minha infância, meus aniversários, vários momentos especiais. A minha foto preferida, que eu acho mais linda, é uma que ele tirou de mim chorando — eu acho belíssima.

Minha família tem muitos registros de momentos importantes. E eu acho que o fato do meu vô querer eternizar tudo isso foi algo essencial pra eu estar vivendo hoje esse sonho e trabalhando com o que eu amo.

Aliás, foi meu vô também quem me deu a filmadora que ele usava pra registrar tudo: as viagens, os casamentos da família, todos os momentos marcantes. Essa câmera tá comigo até hoje. A primeira não funciona mais, mas eu tenho um exemplar igual que ainda funciona. Ter esse material nas mãos é muito significativo pra mim. Representa tudo.

Por isso que eu digo que a fotografia nunca teve um começo. Ela sempre fez parte da minha vida. Mesmo sem eu perceber.

Quando eu comecei a fotografar com meu próprio olhar, com as minhas ideias e referências, eu nem tinha câmera. Eu usava uma Kodak compacta, daquelas bem simples, que meu pai tinha — de uns sete megapixels. Depois, com o tempo, a tecnologia foi avançando… Aí eu tinha um primo com uma condição financeira melhor, e ele tinha um celular que, se não me engano, tinha 20 megapixels. Na época, era absurdo de bom.

E eu usava muito o celular dele pra fotografar. A gente passava o dia todo junto. Meu celular tinha câmera também, mas era horrível (risos). E aí eu pedia pra usar o dele por um tempo. Eu já tinha tudo planejado na minha cabeça — sabia o que queria fazer, o que queria clicar. Tinha só uma ou duas horinhas com o celular dele, então eu aproveitava ao máximo.

Eu lembro que antes dele chegar em casa eu já montava meu moodboard mental, já pensava nas ideias, no que eu precisava fazer. Essas poucas horas que eu tinha eram preciosas. Então ele também foi uma influência muito importante nesse processo, porque foi com a ajuda dele que eu conseguia continuar fotografando quando eu não tinha equipamento bom.

Antes disso, como eu falei, eu usava a Kodak pequenininha do meu pai, tipo uma Cybershot. Então assim, o equipamento nunca foi uma limitação. Eu sempre usei o que eu tinha disponível pra criar. E acho que isso ajudou muito a desenvolver minha identidade visual.

O que me fez crescer no que faço hoje — ter meu estilo, minha linguagem, minha estética — foi o fato de eu ter fotografado a minha vida inteira. Isso me deu repertório, me ajudou a construir minha visão, minha autenticidade.

Desde pequeno fui moldando meu olhar, observando, experimentando. E isso foi essencial pra eu ter clareza do que eu queria como profissional. Quando chegou aquele momento do "e aí, o que você quer fazer da vida?", eu já sabia: fotografia. Arte. Sempre foi muito claro.

A arte no geral sempre me cercou. Tenho uma tia que é professora e me ensinou a pintar. Minha mãe, minha avó, minhas tias — todas fizeram aula de pintura. Meu irmão desenha, meu vô desenha, e o tio que me deu a câmera também. Então o lado artístico sempre esteve ali na minha família.

Eles nem imaginam o quanto me influenciaram (risos), mas foram essenciais. Acho que tudo o que eu sou hoje, o que eu crio, o que eu compartilho com o mundo — a minha visão, o meu trabalho — tem a ver com eles. Minha família é a base de tudo.

Bruno, para começar a nossa entrevista, você sempre soube que seguiria o caminho da fotografia ou foi algo que foi acontecendo aos poucos?

Respondendo à primeira pergunta: eu nunca soube, de fato, que eu queria trabalhar com fotografia. É aquilo que eu falei anteriormente na apresentação — foi algo que foi acontecendo na minha vida de forma bem natural mesmo.

Eu acho que é aquela coisa: ela me escolheu no fim das contas. E, sinceramente, acho que foi bem isso.

Minha relação com a arte vem desde muito pequeno, como eu disse antes. Mas teve um momento que foi muito marcante, em que eu já sabia que eu queria trabalhar com arte — só que eu não sabia exatamente com o quê dentro da arte.

Eu lembro dessa memória muito viva, muito fresca... eu sinto o cheiro do lugar até hoje. Consigo lembrar de tudo, tipo, muito claro mesmo.

Eu tinha sete anos, se não me engano. Tinha acabado de me mudar de escola, e o primeiro passeio que a turma fez foi visitar a casa do Cândido Portinari — que fica em Brodowski ou Batatais, alguma coisa assim... é uma cidadezinha no interior de São Paulo, perto de onde eu moro.

E aí a gente foi pra conhecer quem foi o Cândido Portinari, que é um dos principais artistas visuais do Brasil, né? A gente conheceu a casa onde ele viveu, virou museu... vimos as obras dele, o espaço onde ele trabalhou, desenvolveu tudo como artista. Tinha até as últimas pinturas que ele fez.

Eu lembro de absolutamente tudo. Foi uma visita guiada, super especial. E foi ali que eu me senti tocado pela arte. Eu lembro exatamente do momento que pensei: "eu quero trabalhar com isso". Não sabia com o quê ainda, mas com sete anos eu já sentia que era esse o caminho.

Na época, claro, eu não tinha muita noção do que aquilo significava. Mas foi ali que a arte me pegou de verdade. De alguma forma, ela me chamou. E eu senti que aquilo era um caminho que eu ia seguir.

Fotografia: Bruno Di Faria
Fotografia: Bruno Di Faria

Depois disso veio minha tia, que é professora — eu lembro que ela me deu um quadro pra pintar. E acho que isso foi me ajudando a desenvolver esse lado artístico, a entender melhor o que eu gostava.

E aí teve meu tio, que também teve uma influência muito forte no meu trabalho com fotografia. Ele sempre fotografava a nossa família, me emprestava a câmera dele, e depois foi quem me deu minha primeira câmera. Então acho que tudo foi meio que se encaixando, sabe? As coisas foram acontecendo naturalmente, até chegar no que eu sou hoje.

A fotografia, pra mim, foi um acontecimento. Mas um acontecimento que eu acho que já tava predestinado a acontecer.

Em algum momento já pensou em seguir outro caminho por se sentir perdido nesse universo visual, artístico e criativo?

Eu já pensei sim em seguir outro caminho. Eu sei que esse universo — o meio artístico, da fotografia, da imagem, enfim — é um mercado meio injusto. E também é, né... extremamente elitista. A gente sabe que é um espaço muito pequeno, muito fechado. Todo mundo fala isso: que é uma bolha difícil de furar, difícil de entrar.

E desde que eu comecei a fotografar, quando fui desenvolvendo esse lado mais artístico, eu sempre soube que queria trabalhar com isso. Mas ao mesmo tempo, eu também sabia que isso poderia ser um problema na minha vida.

A minha própria família, e outras pessoas também, sempre falaram que trabalhar com arte seria algo complicado. Que seria difícil se estabelecer, difícil ganhar dinheiro, se manter, viver disso.

Fotografia: Bruno Di Faria
Fotografia: Bruno Di Faria

Então, por um tempo, eu me segurei. Eu fui me arriscar na fotografia só depois. Até porque eu sou formado em Publicidade, e trabalhei por muito tempo em agências. Fui trabalhar como diretor de arte, como designer... tive uma outra profissão primeiro. E só depois de um tempo é que eu percebi que não dava pra fugir do que eu realmente era.

Foi aí que eu desisti das agências e decidi focar de verdade na fotografia — que sempre foi algo que esteve comigo, sempre fez parte de mim.

Mas sim, eu sempre tive muito medo. Medo de não conseguir me sustentar, de não conseguir fazer minhas coisas. Só que, ao mesmo tempo, eu sempre tive muita certeza do que eu queria. Do meu foco, do meu objetivo.

Eu acredito que quando a gente tem isso muito claro dentro da gente, a gente agarra qualquer oportunidade que aparece. Mesmo que a gente tenha pouco, a gente faz esse pouco virar muito, sabe? E segue em frente.

No fim das contas, quando você tem clareza do que quer, tem que confiar na sua intuição e ir. Sempre falo isso pros meus amigos: segue tua intuição, porque ela faz sentido. Quando você escuta o que tá dentro de você, as coisas acontecem. E eu sempre fui muito fiel a isso — à minha intuição e ao que eu acredito.

Eu vi que você se mudou pro Rio e que é de São Paulo — percebeu alguma diferença entre os dois lugares quando o assunto é mercado e oportunidades?

Falando sobre a diferença entre o mercado do Rio de Janeiro e São Paulo... né, porque eu vim de São Paulo, trabalhei lá por um tempo, e agora eu moro no Rio.

Mas uma coisa que eu percebi muito é que as bolhas do mundo criativo, da moda, da arte... são as mesmas. No fim, é tudo a mesma bolha — só muda o nome, sabe? Porque o que eu via lá em São Paulo já existia, e quando me mudei pro Rio, é praticamente igual.

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Fotografia: Bruno Di Faria
Fotografia: Bruno Di Faria

Eu sinto muito isso: que existe essa necessidade de você ter que puxar muito saco pras coisas acontecerem, ou de participar de coisas que nem sempre fazem sentido pra você — que não têm muito a ver com o seu olhar, com o que você acredita.

E por conta disso, eu sei que já perdi algumas oportunidades. Justamente por não ser essa pessoa que vai ficar pedindo favor toda hora, insistindo, implorando pra ser lembrado, ou “lambendo” alguém só pra conseguir espaço. Nunca fui assim. E sei que, por isso, já deixei de estar em alguns lugares.

Então eu sinto que, no fim, tanto o mercado de São Paulo quanto o do Rio são bem parecidos. Tem muita oportunidade? Tem. Rola dinheiro? Rola sim, bastante. Mas tem um problema que é muito claro pra mim: o dinheiro está sempre concentrado nas mesmas mãos. Sempre nos mesmos lugares. Isso não muda muito, seja em SP ou no RJ.

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Fotografia: Bruno Di Faria
Fotografia: Bruno Di Faria

O que eu vejo é que São Paulo ainda tem mais oportunidade do que o Rio. Porque é ali que tá o polo criativo. É onde estão as principais marcas, agências, produtoras, os escritórios que contratam, que criam conteúdo… A gente sabe que São Paulo é o eixo. Não tem como fingir que não é. As maiores oportunidades estão lá.

Tanto que, hoje, a maior parte dos trabalhos que eu faço vem de São Paulo — não do Rio. E, quando rola alguma coisa no Rio, geralmente é por conta de alguém de São Paulo que me indicou.

Então, no fim das contas, São Paulo continua influenciando diretamente o meu trabalho como fotógrafo, mesmo eu morando aqui no Rio.

Como começou seu interesse por fotografia analógica? Dá pra ver que esse estilo tem bastante espaço no seu trabalho.

E o meu interesse pela fotografia analógica veio do mesmo lugar que o interesse pela fotografia digital. Foi muito por influência do meu tio — aquele que me deu a minha primeira câmera —, mas não só dele. Meu vô também, e minha família como um todo, sempre usaram fotografia analógica. Tanto pra gravar quanto pra fotografar mesmo.

Então dentro de casa, eu sempre via as câmeras ali... dos meus tios, do meu vô, espalhadas pela casa. A fotografia analógica tava ali, na minha frente, como parte do cotidiano. Era algo que já fazia parte da minha família. Eu via os álbuns, as fotos que eles tiravam... e isso já despertava em mim uma vontade de trazer essa estética, essa linguagem, pro meu trabalho também.

Eu gosto muito da estética da analógica. Acho linda. Ela traz um cuidado maior com o momento da foto. Faz com que você preste muito mais atenção no que tá fazendo, no que quer registrar. Você não vai sair tirando mil fotos aleatórias — você pensa antes, observa mais. E eu gosto muito disso.

Tem essa coisa da atenção que você dá pro olhar, pro instante. Você precisa realmente olhar, analisar o que quer fotografar, fazer tudo com mais cuidado. Porque, no fim, a gente sabe que fotografar com analógica não é barato — e você não pode sair desperdiçando filme. Então exige presença, exige sensibilidade.

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Fotografia: Bruno Di Faria
Fotografia: Bruno Di Faria

Desde o começo, eu já queria trazer esse lado pro meu trabalho: trazer essa linguagem, essa textura. Eu sentia que isso seria um diferencial, sabe? Porque a fotografia digital já tava muito em alta, muito difundida, e eu percebia a necessidade de buscar um outro caminho — criar uma assinatura visual mesmo, algo mais único.

E essa estética da analógica, tanto em foto quanto em vídeo, traz essa diferença, essa textura, essa alma. Então foi algo que desde o início eu tive como ideia: trabalhar com os dois — digital e analógico.

Por muito tempo, eu fiquei na dúvida se focava só no digital ou só no analógico. Foi uma questão real pra mim, até hoje às vezes é. Mas acho que agora eu tô conseguindo equilibrar, e faz muito sentido pra mim misturar os dois.

Porque depende muito do trabalho, né? Tem projetos que pedem uma linguagem mais analógica. Outros, só digital. E tem muitos que dá pra combinar os dois. Então vai muito do momento, da proposta, da sensação que o trabalho pede.

E falando sobre estilos na fotografia, como você definiria o seu hoje? Ele mudou muito com o tempo?

Nossa, pra definir o meu trabalho é meio complicado. Construir um estilo, uma linguagem, uma estética… é um processo que demora muito. Eu mesmo já mudei várias vezes: meu estilo de edição, minha forma de olhar, a linguagem que eu gostava de usar na fotografia.

Mas tem um termo que eu encontrei que, pra mim, faz total sentido: "tropicalismo dark".

Acho esse contraste incrível. Porque eu valorizo demais a cultura brasileira. Gosto muito dos nossos artistas, da nossa linguagem, da nossa estética — que é extremamente rica e potente. Eu sou apaixonado por essa mistura do Brasil, sabe?

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Fotografia: Bruno Di Faria
Fotografia: Bruno Di Faria

Gosto de registrar o Brasil acontecendo, as coisas se movimentando, o cotidiano, a vida real. E por isso, acho que a fotografia analógica sempre teve tudo a ver comigo. Eu ando com uma câmera saboneteira na mochila, e com ela eu consigo viver o momento, fotografar sem pensar demais, só sentindo.

E todas as minhas fotos analógicas são assim — momentos que eu tava observando, cenas que aconteceram ali, na hora, e que me tocaram. Então vai muito do momento, do que me chama a atenção de verdade.

Tanto na fotografia analógica quanto na digital, eu fui construindo minha linguagem aos poucos. E hoje eu vejo que gosto muito dessa pegada mais artística, com um ar um pouco mais escuro, mas ao mesmo tempo com cores fortes, cores vivas. Eu curto muito cores primárias, porque acho que elas têm tudo a ver com o Brasil — até com a nossa própria bandeira, sabe?

Então acho que o meu trabalho vai muito nessa mistura: entre luz e sombra, entre cor e intensidade. Um olhar afetivo e ao mesmo tempo estético, que carrega muito da minha vivência e do lugar de onde eu venho.

Hoje eu sinto que sim, eu tenho uma linguagem um pouco mais definida. Mas, ao mesmo tempo, sei que ela ainda pode mudar — porque quanto mais a gente evolui, quanto mais a gente se conhece, como pessoa e como profissional, mais a nossa personalidade vai se transformando. E isso reflete diretamente no nosso trabalho.

Não tem como separar. O meu trabalho é, literalmente, um reflexo de quem eu sou. Então, o jeito como eu estou no momento, o que eu tô sentindo, vivendo... tudo isso impacta na minha estética, na minha linguagem, no meu olhar.

Eu gosto muito de uma estética mais minimalista — mas não o minimalismo “clean” demais, sabe? algo mais escuro, mais denso... ao mesmo tempo sofisticado. Eu diria que meu trabalho tem uma pegada dark, mas com um toque minimalista e elegante.

Também curto muito uma estética mais sexy, mas sem cair no vulgar. Aquela sensualidade mais sutil, refinada — que é limpa, mas tem uma presença forte.

Então eu fico ali nesse entre-lugar: algo mais tropical, vivo, quente… mas ao mesmo tempo mais alto, mais introspectivo, mais sombrio. Por isso que eu falo desse termo que criei — o "tropicalismo dark".

Ele nasceu até de uma música do Now Parck, que eu gosto muito. E acho que traduz bem o que meu trabalho busca expressar: essa mistura de brasilidade, intensidade e sofisticação — tudo num mesmo olhar.

Bruno, de todos os trabalhos que você já fez como fotógrafo, qual foi o mais marcante pra você? O que teve de especial nesse projeto que fez ele se destacar tanto na sua trajetória?

Pra mim, acho que o trabalho que mais teve esse peso, essa importância… foi uma matéria que eu fotografei pra Vogue, no mês das noivas.

Todos os trabalhos têm sua importância, claro — cada um é especial de um jeito. Mas esse em específico me marcou muito. Não só por ser pra Vogue, que já é algo enorme, mas também pelo momento em que aconteceu.

Fotografia: Bruno Di Faria
Fotografia: Bruno Di Faria

Eu tinha acabado de me mudar pro Rio de Janeiro. E sabe quando você tá naquele processo interno de aprovação, de autoconfiança? Aquela fase em que a gente começa a se questionar:

"Será que eu sou bom o suficiente?"

"Será que vai dar certo?"

"Será que eu vou conseguir trampo?"

"E se nada acontecer?"

Eu tava cheio de dúvidas, muito ansioso, com aquele medo de dar errado — principalmente porque a mudança foi um salto no escuro. Eu ficava me perguntando se tudo aquilo fazia sentido mesmo.

E aí, de repente, veio esse convite: fotografar pra uma matéria da Vogue em parceria com o Hotel Janeiro, que é um dos lugares mais reconhecidos aqui no Rio. Eu já conhecia o hotel, sempre admirei. E o convite veio por meio de uma amiga minha, com quem eu já tinha trabalhado, e que tem um papel muito importante na minha trajetória — uma pessoa que sempre me incentivou, que foi essencial pra minha construção como fotógrafo, tanto na direção de arte quanto na linguagem.

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Fotografia: Bruno Di Faria
Fotografia: Bruno Di Faria

Então, quando essas três potências se encontraram — a Vogue, o Hotel Janeiro e essa amizade profissional de confiança — eu entendi o quanto aquele momento era importante. Era mais do que só um trabalho.Era um sinal de que as coisas estavam realmente acontecendo.

E eu acho que foi isso que me marcou tanto: perceber que, quanto mais a gente se movimenta, mais o movimento nos leva pra outros lugares. Foi uma espécie de validação, sabe?

A gente não deveria depender da validação do outro pra acreditar no que faz — mas, às vezes, ela vem e faz diferença. E naquele momento, eu precisava ouvir que eu era bom sim, que meu trabalho tinha força, que o que eu tava construindo fazia sentido.

Essa matéria me ajudou a enxergar isso. E me deu ainda mais certeza do caminho que eu tô seguindo.

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Fotografia: Bruno Di Faria
Fotografia: Bruno Di Faria
Puxando um pouco esse assunto de referências: eu, por exemplo, me inspiro muito em filmes — reparo nas cenas, no styling, na fotografia. Quando rola um shooting mais específico, onde você costuma buscar inspiração?

Quando tenho um trabalho mais específico, no geral mesmo, eu sempre procuro buscar referências fora da internet.Eu já fui uma pessoa que buscava muita referência online, mas acho que isso acaba vencendo um tanto o nosso olhar.

Dentro da internet, eu gosto muito de procurar dentro do Cosmos. Eu não gosto do Pinterest, porque acho que ele acabou padronizando uma estética. Essa questão da estética que as pessoas sempre falam… eu acho isso um tanto quanto problemático — mas é um tema pra um outro momento.

Eu sempre busquei referência em revistas, livros, filmes, coisas que já aconteceram, coisas antigas, artistas.Quais são as minhas referências? Eu gosto muito de artistas antigos, tipo o Andy Warhol. Acho que ele tem uma influência muito grande dentro do meu trabalho, porque ele é um multiartista.E eu também sou um multiartista — gosto de trabalhar em diversas áreas ali dentro da minha questão como artista, né?

Buscar referência na internet é bom, porque te traz muita coisa, muita ideia, muito repertório. Mas ao mesmo tempo, eu acho que a gente tem que ser um tanto quanto analógico também.Por isso que a fotografia analógica tem um papel muito forte dentro do meu trabalho, sabe? Tem muita influência.

Buscar referência em livro, filme antigo, traz muita ideia boa. A gente vê filmes antigos e, antes, eu nem percebia. Mas depois, entendi que eles tiveram uma influência gigantesca em mim, me trouxeram novas linguagens, novas estéticas, me fizeram conhecer coisas novas — e isso foi extremamente importante.

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Fotografia: Bruno Di Faria
Fotografia: Bruno Di Faria

Eles me trouxeram novas visões, novos recortes de foto, planos pra gente fotografar, e ajudaram a entender melhor como seria o momento ideal de fotografar, o lugar, a composição diferente.Acho que filme antigo me trouxe muito desse olhar novo, mais fresco.

E eu também gosto muito de viver a vida, sabe?Acho que o principal é isso: a direção de arte da vida. Eu falo isso pra um amigo meu — que a própria vida tem direção de arte.

Tem hora que eu paro, olho pra uma cena e penso: “gente, como assim?”. Ninguém pensou nisso, a pessoa só jogou as coisas ali… e eu fico: “cara, isso aqui tá super com cara de uma direção de arte”.Mas, no fim, é isso: é a direção de arte da vida. A pessoa nem pensou, só largou umas coisas ali — eu falei isso outro dia na praia.

Às vezes eu tô ali, vendo as pessoas montando as barraquinhas, o caixa empilhado com não sei o quê, as cadeiras misturadas, tudo meio bagunçado… mas, ao mesmo tempo, super estético.Estética brasileira de bar misturada com praia, sabe? E o jeito que a pessoa colocou as coisas, parece feito por um diretor de arte. E aí você pensa: “cara, nem é direção de arte...”.

Então, pra mim, a vida é a própria direção de arte. Ela acontecendo, sabe? É uma das minhas maiores inspirações.

A minha maior referência, de fato, é viver. Sair de casa, ver as pessoas, o mundo acontecendo, buscar referência em livro, em arte, conversar com gente nova, conhecer novas histórias…Isso tudo me traz muita referência.

E, pra encerrar com calma… tem uma coisa que eu queria muito te perguntar: existe algo que a fotografia te revelou sobre você — que só fez sentido com o tempo — e que você gostaria de ter dito pro Bruno do começo, aquele que ainda segurava a câmera, cheio de dúvidas e incertezas?

Uma coisa que a fotografia revelou sobre mim — e que eu fui percebendo com o tempo — foi o quanto eu gosto de ficar sozinho comigo.O quanto eu tenho amor-próprio, sabe? E essa coisa da solitude mesmo… que isso não é um problema pra mim.

Por muitas vezes, eu já fotografei com amigos, e eu percebo que eu não gosto muito de fotografar com muita gente ao mesmo tempo.Acho que isso acaba atrapalhando o meu olhar… meu visual, meu processo mesmo.

Não gosto quando tô num shooting, dentro de um estúdio, e tem muita gente falando ao mesmo tempo, todo mundo em cima, aquela pressão… isso me incomoda.Então, quando eu vou fotografar na rua ou no estúdio, eu sempre prefiro estar com o mínimo de pessoas possível — ou sozinho.

Principalmente quando vou fotografar a cidade, o urbano, as coisas acontecendo…Gosto de ir só, porque é quando eu tenho tempo de ficar comigo mesmo, com meu silêncio, ou com o barulho da cidade mesmo — com as coisas acontecendo ao meu redor — e eu ali, só observando, no meu próprio tempo.

Ter esse tempo só meu, sabe? Fotografar no meu momento, sem interrupção, sem outras pessoas opinando ou direcionando…Isso, pra mim, é essencial pra eu conseguir mergulhar mesmo na minha visão, na fotografia.

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Fotografia: Bruno Di Faria
Fotografia: Bruno Di Faria

Porque a fotografia analógica é aquilo que eu falei: é muita observação, é o momento. Você tem que captar o instante certo.E pra isso, você precisa de tempo, de paciência, de presença. Você precisa estar ali, esperando, atento.Então acho que a fotografia me ensinou muito isso: a dar tempo ao tempo, a ser mais paciente, menos ansioso com as coisas que eu quero fazer.

E também me ensinou o quanto eu gosto da minha própria companhia.O quanto eu gosto de mim, da minha personalidade, de quem eu fui me tornando com o tempo.Eu comecei a valorizar muito mais quem eu sou.

E esse negócio de estar sozinho… pra mim, não é um problema.Pelo contrário. Me reconhecer desse jeito, com autonomia, com essa tranquilidade de estar só e conseguir lidar com tudo…Isso foi muito importante.

A fotografia me ensinou isso: a ficar em paz com meu próprio silêncio, com as minhas vozes internas — e isso não ser um peso.

Um conselho que eu daria pro Bruno ali do início, que tava começando tudo, cheio de dúvidas e questões na cabeça…A principal coisa que eu falaria é: tenha paciência. Muita paciência.E não se cobre tanto, nem fique ansioso com o tempo das coisas, porque a gente sempre quer tudo no nosso ritmo, no nosso momento… mas as coisas não funcionam assim.

Nem sempre correr atrás ou dar o seu melhor vai ser o suficiente — e tá tudo bem.Às vezes, é o tempo que vai mostrar o caminho.Então, eu falaria: continua acreditando, continua fazendo do seu jeito, com autenticidade, com dedicação.

E tem uma coisa que eu também falaria, bem direto: não entra em relacionamento.Porque aquilo teve um impacto muito grande no meu trabalho.Eu sinto que me atrasou em várias áreas, tanto na profissão quanto no pessoal.Porque quando eu vivo uma coisa, eu vivo de verdade.Assim como a fotografia, que é 100% reflexo de quem eu sou… quando eu me relaciono com alguém, eu também me entrego por inteiro.

E aquele relacionamento acabou influenciando negativamente a forma como eu criava, como eu trabalhava, como eu me enxergava.Eu era muito novo, e sei o quanto isso me tirou do foco — me fez desacelerar no momento que eu mais precisava acreditar em mim.

Então, se eu pudesse voltar, eu diria:“Bruno, foca no seu trabalho. Vai atrás do que você quer. Não se perde em relação. Relacionamento a gente constrói com o tempo, mas teu sonho precisa de atenção agora.”

Foi esse foco que eu tentei resgatar quando me mudei pra São Paulo: construir uma carreira como fotógrafo, do jeito que eu sempre quis.

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Fotografia: Bruno Di Faria
Fotografia: Bruno Di Faria

E, por fim, eu espero de verdade que meu trabalho, a minha trajetória, minhas experiências com a fotografia e com a vida de forma geral…possam inspirar alguém, ou pelo menos fazer enxergar algo diferente.Talvez trazer uma luz que você tava precisando, ou um empurrão pra acreditar mais em você mesmo.

Fico feliz de ter respondido essas perguntas, porque também é uma forma de olhar pra mim, de voltar e entender o meu caminho — e se isso ajudar alguém, já valeu.

É isso…Tchau, tchau. <3

 
 
 

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